O filme O AMIGO DO REI interpela a consciência de todos e é imperdível.

O filme O AMIGO DO REI interpela a consciência de todos e é imperdível. Por Gilvander Moreira[1]

Capa do filme O AMIGO DO REI.

O filme documentário O Amigo do Rei, do cineasta André D’Elia, aborda a tragédia crime ocorrida a partir de Bento Rodrigues, em Mariana, MG, com o rompimento da Barragem Fundão das empresas mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton em 05 de Novembro de 2015, quando milhões de toneladas de lama tóxica foram derramadas com violência sobre o vale do rio Gualaxo do Norte, contaminando em poucos dias todo o vale do ex-rio Doce até a sua foz, em Regência, no Espírito Santo, quando ainda atingiu várias localidades vizinhas do litoral capixaba; matando 19 pessoas e outros milhares de vidas animais, biodiversidades e muitos sonhos. O crime continua impune e matando. Dezenas de pessoas já morreram posteriormente com as conseqüências dramáticas do crime.

No filme O AMIGO DO REI, de um lado, entrevistas contundentes de atingidos, ambientalistas, promotores públicos, representantes do movimento social e especialistas de diversas áreas, ilustradas com recortes de artigos de jornais, trechos de programas de televisão, desenhos e mapas de situação. Do outro, cenas fictícias onde é exposto de forma alegórica o jogo sórdido e perverso de poder entre políticos, empresas mineradoras e seus lobistas para manter o modus operandi e os seus absurdos privilégios. Os mais variados sons usados durante cenas dão o contorno da dramaticidade do que aconteceu. No filme, há momentos que os sons falam e gritam mais que as palavras cortantes das pessoas não apenas atingidas, mas golpeadas.

No atual momento, o filme O Amigo do Rei teve como primeiro impacto a lembrança da tragédia de Mariana, esmaecida propositadamente por muitos na mídia, nos governos federal e estadual, no poder judiciário, em especial pela tal Fundação Renova, que por meio de uma gama de funcionários e consultores, faz de conta que está realizando inúmeros programas, ações, tomando “providências” de forma isenta a respeito das reparações dos atingidos. Entretanto, esta “fundação” nada mais é do que uma representação mascarada dos interesses escusos das mineradoras Vale/Samardo/BHP, os criminosos – o que parece inacreditável que perdure tal situação vexatória.

 O filme O AMIGO DO REI mostra de forma contundente as posturas nefastas dos vários governos, notadamente do governador Pimentel e deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em tentar manter os interesses das mineradoras, ora alterando e controlando projetos de leis, ora trocando e perseguindo eficazes funcionários e promotores públicos, como ocorreu em dezembro de 2017, com a retirada de promotores combativos da força tarefa do Ministério Público de MG que estavam cumprindo com afinco o seu dever e, por isso, exigindo punição implacável e reparações sem aliviar para as mineradoras criminosas. O filme denuncia também a absurda flexibilização do licenciamento Ambiental ocorrido em Minas Gerais em regime de urgência requerido pelo governador Pimentel.

Contar estas memórias das relações institucionais parece fundamental para se compreender o rumo ou a falta dele nos últimos tempos no que se refere a este crime/tragédia, que aumenta as suas graves consequências como uma bola de lama (e não de neve) de injustiças sociais e ambientais. Mas os atingidos felizmente estão se organizando e estão denunciando as atrocidades e desrespeitos vividos desde então. O filme é todo ele muito eloquente. Por exemplo, chamou muita a atenção no filme O AMIGO DO REI a fala de uma moradora de Bento Rodrigues, a Dona Maria, que informou que em resistência ao avanço do território sobre Bento Rodrigues por parte da mineradora Samarco, muitos moradores continuam frequentando o local (primeiro lugar devastado pela lama tóxica), contradizendo os interesses escusos da mineradora que queria se apoderar daquele importante sítio histórico, inclusive tendo construído um dique/barragem ali, que já foi uma nova catástrofe para Bento Rodrigues.  

No filme, são emocionantes as denúncias dos atingidos de Paracatu de Baixo (ainda município de Mariana), como dos demais municípios a montante, como os de Barra Longa, Governador Valadares, Resplendor, Baixo Guandu e Linhares. Interessante a fala do jovem líder indígena Geovani Krenak, que disse que o descaso que os atingidos de todo o Vale do ex-rio Doce estão sofrendo desde 2015 é o que eles sempre sentiram na pele em relação ao poder público e aos massacrantes interesses econômicos de empreendimentos que atuam na bacia do ex-rio Doce nos últimos séculos. Barreiras e manifestações na linha férrea da Estrada de Ferro Vitória-Minas ocorreram como forma de resistência por parte de moradores da região do Médio Rio Doce visando pressionar os andamentos das negociações sobre os seus direitos e sobre a escassez hídrica que assolou a região.

Interessante o destaque que foi dado no filme O AMIGO DO REI para a real possibilidade de outras barragens se romperem em Minas Gerais, quando houve uma simulação virtual do rompimento da Barragem Maravilhas III, da mineradora Vale, situada no município de Itabirito, que no caso de seu rompimento poderá contaminar o vale do Rio das Velhas, onde se encontram os sistemas de captação de água que abastecem a região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), causando um colapso inimaginável de falta de água para a sua população e por consequência, em todo o vale do rio São Francisco.                        

Por fim, o filme O AMIGO DO REI mostra o rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro de 2019, onde o jogo do real e do fictício mostra uma dura e cruel verdade.  Estamos caminhando para um precipício se não for rompido de forma definitiva com o modelo decolonial de minério-dependência. 

Enfim, o filme O AMIGO DO REI é para não se esquecer de um crime/ tragédia que continua e reacender a memória sobre a crueldade que foi e continua sendo e, pior, impune. O filme faz uma denúncia contundente da barbárie que é o sistema capitalista pautado na voracidade das grandes mineradoras, o que está colocando em colapso as condições de vida em Minas Gerais e no Brasil. Denuncia o conluio e a cumplicidade do Estado e da classe dominante com esse projeto que só produz barbárie. O filme alerta que se não houver uma conversão radical sobre a forma de se viver em sociedade, ocorrerá o colapso final das condições de vida e a morte de todas as pessoas. O crime/tragédia ocorrido a partir de Bento Rodrigues, em Mariana, não foi por omissão e nem por negligência, mas foi planejado para matar com cálculo frio de quem é vassalo da idolatria do mercado e do capital.

O filme O AMIGO DO REI está em cartaz de 8 a 14 de agosto de 2019 em 17 cidades brasileiras, e pode ficar mais tempo em exibição se o público comparecer. Vamos juntos lotar as salas de cinema e dar um recado claro: MAR DE LAMA NUNCA MAIS![2]

O Amigo do Rei – Trailer / 8 de agosto de 2019 nos cinemas

Belo Horizonte, MG, 08/8/2019.


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.  E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.brwww.freigilvander.blogspot.com.br      –      

www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

[2] CORRENTE EM DEFESA DA POPULAÇÃO FRENTE À MINERAÇÃO. Mar de Lama Nunca Mais!

HOJE, quinta-feira, dia 8 de agosto de 2019, estreia nos cinemas de todas as regiões do país, o filme O AMIGO DO REI, que conta a história do maior crime ambiental do Brasil, o rompimento da barragem da Samarco em Mariana-MG, que matou 19 pessoas e o Rio Doce.

Veja as 17 CIDADES que o filme está em cartaz e repasse essa mensagem a todos que possam se interessar! É uma denuncia de como as práticas de mineração podem gerar mais tragédias, conforme Brumadinho já comprovou apenas 3 anos depois.

O AMIGO DO REI está em cartaz de 8 a 14 de agosto de 2019 nas cidades abaixo, e pode ficar mais tempo em exibição se o público comparecer. Vamos juntos lotar as salas de cinema e dar um recado claro: MAR DE LAMA NUNCA MAIS!

ARACAJU – SE (Cine Vitória – qui 15:00 / sáb 16:10 / seg 18:30)

BELEM – PA (Cine Líbero Luxardo – 15:30)

BELO HORIZONTE – MG (Cine Belas Artes – 19:00)

BRASILIA – DF (Espaço Itaú Cinema Brasília – 21:30)

CURITIBA – PR (Espaço Itaú Curitiba – 21:20)

GOIANIA – GO (Lumiére Banana – Cine Banana Shopping – 18:15)

FORTALEZA – CE (Cinepolis Riomar Fortaleza – 15h30)

JABOATAO DOS GUARARAPES – PE (Cinépolis Shopping Guararapes – 19h20 – sáb e dom 14h20)

JOAO PESSOA – PB (Cinépolis Manaíra Shopping – 20h45 – sáb e dom 15h45)

MACEIO – AL (Cinesystem Maceió – 21:45)

MANAUS – AM (Casarão de Ideias – 16:00)

PALMAS – TO (Centro Cultural de Palmas – 18:30)

PORTO ALEGRE – RS (Espaço Itaú Country – 19:10)

RIO DE JANEIRO – RJ (Espaço Itaú Botafogo – 19:20)

SALVADOR – BA (Espaço Itaú Gláuber Rocha – 17:50)

SAO PAULO – SP (Cinesystem Morumbi Town – 21:15 / Espaço Itaú Frei Caneca – 19:20)

TERESINA – PI (Cine Teresina – 21h30)

Todo valor arrecadado com venda de ingressos nos cinemas será revertido em trabalho de distribuição para outras cidades. O objetivo é levar o filme para escolas, cineclubes, associações, sindicatos e chegar no maior número de pessoas!