NOTA DE APOIO E SOLIDARIEDADE À JORGE FERREIRA DOS SANTOS E À ARTICULAÇÃO DOS EMPREGADOS(AS) RURAIS DO ESTADO DE MINAS GERAIS (ADERE/MG)

Nós, movimentos sociais, organizações e instituições abaixo assinados,  manifestamos apoio e solidariedade à Articulação das/os Empregadas/os Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE/MG) e ao seu membro Jorge Ferreira dos Santos em virtude das recentes agressões sofridas. 

Por ocasião das comemorações referentes ao dia 20 de novembro de 2023 no Campus Avançado Carmo de Minas do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais, Jorge foi convidado para participar da atividade Luta antirracista: Qual a sua contribuição?, ocasião em que abordou o caso de trabalhadores e trabalhadoras em situação análoga à escravidão ressaltando o fato vergonhoso de que Minas Gerais tem liderado esse ranking há muitos anos. Contextualizando esses casos de violação da dignidade humana, ele destacou que o trabalho escravo contemporâneo é um crime recorrente em lavouras de café do Sul de Minas Gerais. Jorge, que é vítima frequente dos ataques de setores ligados aos interesses econômicos vinculados às práticas por ele denunciadas, foi, por sua fala no evento, covardemente difamado e caluniado nas redes sociais.

Jorge tem uma atuação notável como militante antirracista e contra a escravidão contemporânea. Atuando na ADERE/MG e na Central Única dos Trabalhadores (CUT), seu trabalho militante já resultou no resgate de centenas de pessoas submetidas à situações análogas à escravidão. O trabalho determinado e corajoso de Jorge tem enfrentado interesses poderosos vinculados a setores destacados da economia de Minas Gerais, que apesar das violações cometidas contam com a conivência de setores políticos e dos conglomerados da mídia hegemônica. Conforme destaca Jorge, o fato de que a grande maioria das pessoas submetidas à iniquidade do trabalho escravo na contemporaneidade são negras demonstra a persistência histórica dos legados iníquos do nosso passado escravista.  

O Vale do Jequitinhonha é uma região que mantém um fluxo migratório intenso de trabalhadoras e trabalhadores (em sua maioria negras e negros, camponesas e camponeses, além de povos e comunidades tradicionais) para o trabalho nas lavouras de café do Sul de Minas Gerais. Região pauperizada pelos processos de modernização do capitalismo brasileiro, o Vale ainda é popularmente conhecido como lugar onde existem as “viúvas de marido vivo”,  tamanha a recorrência e impacto demográfico causado pela migração sazonal ou permanente de pessoas que são submetidas à superexploração nas ditas “regiões de economia dinâmica” nas quais se encontra empreendimentos cuja pujança econômica é construída às custas da escravização de pessoas.

Nós, organizações e entidades abaixo assinadas, estamos engajados na luta contra o trabalho escravo contemporâneo e o racismo. Temos atuado para assegurar a dignidade de todos os grupos minorizados socialmente e  submetidos à violência racista e às iniquidades do capitalismo. Colocamo-nos firmemente ao lado do companheiro Jorge Ferreira dos Santos e da Articulação das/os Empregadas/os Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE/MG), repudiamos todas as agressões sofridas e convocamos todos os setores antirracistas a intensificar a luta política e social em prol de uma sociedade diversa, plural, justa, igualitária e fraterna.

Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão Afro-Brasileiros e Indígenas do Instituto Federal do Norte de Minas do Campus Araçuaí (NEABI IFNMG Campus Araçuaí)

Comissão das Comunidades Quilombolas do Vale do Jequitinhonha (COQUIVALE)

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Observatório dos Vales e do Semiárido Mineiro  da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri (UFVJM)

Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais (CPT/MG)

Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão Afro-Brasileiros e Indígenas Central do Instituto Federal do Norte de Minas