Resistência camponesa em Gameleiras (MG): CPT-MG visita acampamentos e reafirma compromisso com a luta pela terra

O município de Gameleiras, localizado no cerrado mineiro, na divisa com o estado da Bahia, é historicamente marcado pela concentração fundiária e pela presença de grandes latifúndios voltados à pecuária extensiva. Uma realidade que escancara as desigualdades no campo e revela o domínio de poucas famílias sobre vastas extensões de terras, muitas vezes improdutivas.

Esse processo de concentração fundiária se aprofundou nos anos 1970, quando o Estado de Minas Gerais, por meio da Ruralminas, incentivou a entrada de empresas siderúrgicas na região. Em nome de um projeto de “desenvolvimento” para o Norte de Minas Gerais, foram realizadas expropriações em massa de terras tradicionalmente utilizadas por comunidades camponesas. Áreas de uso comum foram desmatadas para dar lugar a monoculturas de eucalipto e à instalação de carvoarias industriais. A violência fundiária institucionalizada, com apoio estatal, desestruturou modos de vida, expulsou famílias de seus territórios e causou danos ambientais irreversíveis ao cerrado mineiro.

Em 2021, em plena pandemia de Covid-19, famílias camponesas da região se reorganizaram e ocuparam duas grandes propriedades: as fazendas Siderpa e Siderprata. A partir dessas ocupações, foram formados três acampamentos: Terra Preta, Tamboril e Terra Verde. Nesses territórios, os camponeses e camponesas passaram a construir coletivamente alternativas de vida, produção de alimentos e resistência à violência do latifúndio. As ocupações se tornaram espaço de retomada da dignidade e do direito à terra, dando origem a fortes lideranças populares.

Entre essas lideranças, destacou-se Zaqueu Balieiro, camponês comprometido com a luta por justiça social e pelos direitos do povo do campo. Após anos de ameaças e perseguições, Zaqueu foi brutalmente assassinado em 2024. O crime ocorreu pouco tempo depois da visita da Comissão de Justiça do Tribunal de Justiça de Minas Gerais aos acampamentos da região. O autor do assassinato, João de Olímpio, já conhecido na região por atuar como pistoleiro, está atualmente preso. Segundo denúncias das comunidades camponesas, João prestava serviços ao fazendeiro José Neto, representante da empresa J4, vinculada à Fazenda Topázio, que busca manter o controle territorial por meio do uso de violência e milícias privadas.

Diante desse contexto de tensão e violações de direitos, a coordenação da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais visitou os acampamentos no dia 23 de maio de 2025. A visita teve como objetivo acompanhar de perto a situação das famílias camponesas, ouvir suas demandas e reafirmar o compromisso da CPT com a luta pela terra, pela vida e por justiça no campo. A presença da CPT-MG fortalece os vínculos de solidariedade com os acampamentos e denuncia as estruturas de poder que seguem perpetuando a violência contra os pobres do campo.

A memória de Zaqueu Balieiro permanece viva nas práticas cotidianas de resistência das famílias que seguem nos acampamentos Terra Preta, Tamboril e Terra Verde. Sua trajetória inspira a continuidade da luta por uma reforma agrária popular, por territórios livres da violência e pela construção de um campo com justiça social e vida digna para todas e todos.

A CPT-MG segue ao lado dos camponeses e camponesas de Gameleiras, denunciando o latifúndio, o uso de milícias privadas e a impunidade. Reafirmamos nosso compromisso com a construção de um projeto popular para o campo, pautado na justiça, na solidariedade e no respeito aos direitos humanos.

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